Infinitivo flexionado (ou não)?

Decidi escrever este post para (tentar) explicar uma dúvida de um leitor sobre flexão do infinitivo.
O uso de formas flexionadas ou não em relação ao infinitivo é uma questão muito questionada por gramáticos a respeito da sintaxe do português. Você provavelmente encontrará muitas regras sobre uso do infinitivo, fundamentadas em questões consideradas “lógicas”, mas às vezes questionáveis. Celso Cunha por exemplo, afirma que: “parece-nos mais acertado falar não de regras, mas de tendências que se observam no emprego de uma e de outra forma do infinitivo”. Nesse sentido, são consideradas, portanto, questões estilísticas, que se relacionam à ênfase do enunciado, clareza em relação ao emprego da expressão…
Vale refletir também que, segundo Cunha e Cintra, o uso do infinitivo flexionado parece ser mais frequente no “português Europeu do que no do Brasil, em razão da vitalidade, em Portugal, do tratamento tu e, por consequência, da flexão correspondente a esta pessoa no infinitivo pessoal. Predominando na maior parte do Brasil o tratamento íntimo você, que se constrói com o verbo na 3 pessoa do singular – pessoa desprovida de desinência, ou melhor, com desinência zero -, daí a identificação dessa forma no infinitivo pessoal com a do pessoal.”
Veja o que ele diz, afirmando ser o caso de uma “preferência”, citando Said Ali:
“A escolha da forma infinitiva depende de cogitarmos somente da ação ou do intuito ou necessidade de pormos em evidência o agente da ação”.
Lembre-se de que o infinitivo é uma forma que permite indeterminar o sujeito, o que traz à oração caráter mais genérico. Quando ele é marcado com sujeito, isso torna a oração mais pessoal.
Em virtude de toda essa discussão, não entrarei em questões de “regras” para justificar o uso do inifnitivo (ou não) no caso da oração que deixam dúvidas em relação à flexão. É claro que algumas são óbvias demais para saber sobre o uso do infinitivo ou não. Se surgir dúvidas, consulte uma gramática e procure exemplos semelhantes. Procure também a ocorrência de determinadas expressões no google, marcadas entre aspas, em sites conceituados, no caso dessas questões de tendências, e verifique se há um padrão de uso por esses sites.
O meu leitor encaminhou o seguinte trecho a respeito de dúvida sobre o uso de flexão do infinitivo:
…mas como o Prof. Jerry recebeu muitos emails de pessoas reclamando por não ter conseguido fazer as inscrições a tempo, alguns por falta de tempo, outros por ter deixado para última hora e o sistema de pagamento para as inscrições no curso ter ficado instável por excesso de tráfego no site e assim não terem conseguidos realizar as inscrições. Então ele e sua equipe resolveram Abrir mais 20 VAGAS durante 48 Horas. Então não perca essa Chance e faça sua Inscrição agora!
Sugiro que o trecho ” por não ter conseguido” seja reescrito para ” por não conseguirem”. No segundo caso, sugiro “por terem deixado”. Não vou entrar nos exemplos de casos em que faz mais sentido não flexionar, porque o caso do exemplo supracitado é muito específico e refere-se a várias orações vinculadas umas às outras, não seria possível (e não faria muito sentido) fazer uma comparação ou “buscar uma regra gramatical” com base em análise sintática dessas orações.
Encaminhei um e-mail para a Academia Brasileira de Letras sobre o assunto e eles mal responderam com apenas uma “sugestão” entre aspas: “por não terem conseguido” e “por terem deixado”, o que reflete a escolha pela pessoalidade.
Talvez o exemplo a seguir possa permitir maior reflexão sobre o assunto, já que não é tão complexo como o exemplo anterior:
“Os alunos viram os professores chegarem” (nesse caso é opcional: “chegar” ou “chagarem”). A flexão é facultativa, segundo o que muitos gramáticos chamam de “tendência”.
Outro exemplo para reflexão:
“Aqueles problemas eram possíveis de resolver”. Não acho que soa estilisticamente bem dizer “de resolverem”, portanto, nesse caso, sugiro a não flexão. Se utilizarmos uma locução verbal, a flexão parece fazer mais sentido, por exemplo: “possíveis de serem resolvidos”.
No exemplo relativo à dúvida de meu leitor, ao se retirar as locuções verbais e deixar só uma forma verbal para o infinitivo, faz sentido não flexionar, por exemplo:
e-mails de pessoas reclamando por não conseguir fazer as inscrições a tempo, alguns por falta de tempo, outros por deixar para a última hora…
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