São duas horas da manhã de uma segunda-feira infeliz. Você não consegue dormir, pois, simplesmente, poderá apenas tirar um cochilo de três horas, afinal, nesse mesmo dia, você terá de acordar às 5 horas da manhã, perder 2 horas do seu dia sem receber, apenas, para se arrumar e impulsionar toda a engrenagem capitalista que faz os outros enriquecerem e você viver na miséria.
Pensa em conversar com os seus amigos, com os seus familiares, mas todos dizem para você consultar um psicólogo ou parar com esses pensamentos que eles não irão levá-lo(a) a lugar algum. Afinal, “as coisas estão difíceis”. Você não tem suporte de seus pais, precisa pagar as suas contas, pagar aluguel e sobreviver “sozinho” ou ajudar a (o) sua (seu) parceira(o) a bancar a casa. Seus vizinhos agem da mesma maneira, seus pais, amigos, companheiros(as) condenam esses pensamentos, afinal, todos(as) que você conhecem são “empregados”(as).
O mínimo que chegam a dizer é para você estudar para concursos públicos e que, nesse caso, a vida será mais fácil e tranquila. Você entra em depressão só de se imaginar nessa situação e acredita que a sua criatividade está muito além disso. Seu espírito de liderança e vontade de transformar a sociedade são tão evidentes que você entra em conflito com qualquer alienado que vegeta em seu trabalho e nem sabe o porquê de estar ali. E, por essa razão, é tido como alguém que “não sabe trabalhar em equipe”.
Por um minuto você tem um pensamento empreendedor, pensa em ganhar dinheiro pela internet, abrir um negócio, diminuir o seu padrão de consumo e trabalhar menos para viver de uma maneira mais tranquila ou pensa em largar tudo e viver em uma casa no interior, plantar a sua própria comida e ter uma vida simples. Mas os prazeres da contemporaneidade ainda o deixam tentado e você começa a dizer para você que isso tudo é uma bobagem.
Entrou na internet, digitou “largar o emprego” e encontrou esse post, escrito por alguém que, depois de onze anos trabalhando muito, decidiu sair desse “sistema” e fazer o seu “próprio dinheiro”. Pensa, por um segundo, que está lendo uma daqueles famosos artigos de como enriquecer pela internet e que tudo isso é lorota! Mas continua lendo o texto, pois a leitura está interessante =) rsrs.
Já passei por toda essa trajetória. Dois anos antes de pedir demissão de meu emprego, comecei a ganhar dinheiro pela internet e me tornei empreendedor. As coisas começaram a acontecer com um simples estágio na área de Revisão de Texto, em 2009 no Supremo Tribunal Federal (STF). Comecei a fazer contatos, criei um blogue e, anos depois, as pessoas começaram a gostar e solicitar cada vez mais o meu serviço pela internet.
Ainda mantive o emprego por uma questão de costume, mas, dois anos de carteira assinada, eu já não precisava mais daquele emprego e daquele salário. E o pior, salário de professor.
Eu trabalhava como condenado, revisava muitos textos de alunos fora do meu horário de trabalho, todos os dias, gratuitamente, nos meus horários de descanso em casa, para, um belo dia, decidirem reduzir o meu salário (transferindo-me do Ensino Médio para o Ensino Fundamental), pois eu “era uma pessoa que tinha muito conhecimento, mas não era um ‘SÁBIO'” e vieram com todo aquele discurso hipócrita de fraternidade e cordialidade brasileira: “faça o que eu digo, mas não o que eu faço”.
Perguntei se o problema era profissional, disseram que não e continuaram insistindo com a subjetividade brasileira excessiva. O motivo dessa mudança deveu-se ao fato de eu ser muito “jovem” e “imaturo” (nem vou comentar, mas eu lecionava há 11 anos, desde os meus 17 anos de idade).
Naquele momento, eu já estava muito distante do discurso de “trabalho por amor”, “fui designado a ser pobre, ser humilhado e sofrer dando aulas”. Acordei às 4 horas da manhã, muito revoltado, e simplesmente decidi NUNCA MAIS DAR AULAS NA MINHA VIDA! Afinal, apesar de minha juventude, eu já lecionava há 11 anos e já tinha feito demais por esse país sem receber muito em troca. De fato, eu não deveria ser um sábio mesmo, naquele momento, tendo em minhas mãos todas as ferramentas e todo o conhecimento e vontade para sair daquela vida! Por que eu sofreria e continuaria dando aulas, então?
Pensei que minha atitude poderia me fazer voltar para minha detestável e vazia cidadezinha de interior rsrs, passar fome e, com um título de mestre em uma Universidade Federal, virar história como a daquele lendário senhor doutor que, mesmo tentando de tudo, terminou vendendo cachorro quente na esquina ou que virou morador de rua, e ser motivo de pena daquele primo funcionário público ou daquele tio orgulhoso que se diz feliz com um salário de dois mil reais por mês, um apartamento e um carro na garagem, vivendo do cheque especial do banco.
O pior era pensar o que os meus pais diriam: “nossa, você trabalhava em uma instituição tão boa, tinha vale alimentação, ganhava 4 mil reais por mês, gostava do que fazia, por que largou o emprego, você é louco? Não irei sustentá-lo, seu vagabundo!” Pensei, naquele momento, somente em mim e, apesar de ficar abalado por algumas semanas, senti que caminhava para fora desse injusto sistema de trabalho.
Hoje vivo basicamente de minha atitude empreendedora na internet. Fiz vários contatos, fidelizei clientes, presto serviço para instituições públicas ou privadas. Tenho onze atestes de capacidade técnica. Ao contrário do que possa parecer, continuo trabalhando muito, passo madrugadas trabalhando, às vezes. A grande diferença é: o meu trabalho tem o valor que eu acredito e mereço. Além disso, sou muito feliz trabalhando com o que gosto.
O lado negativo disso tudo (ou não) é saber poupar dinheiro e administrar as finanças para não passar por apertos nos meses de baixo movimento. Mas isso é fácil, tenho um padrão de vida simples, embora invista parte do meu dinheiro em viagens. Para quem trabalha como eu, fica a dica: é fundamental divulgarmos os nossos produtos, seja na internet ou mesmo nos locais de grande consumo de nossos serviços/produtos, ser MUITO atencioso com os clientes e tratá-los de maneira muito prestativa e educada, o que exige muito esforço e paciência, mas faz toda a diferença.
Obs: não tenho a intenção de incentivar ninguém a largar o emprego com esse post, mas, apenas, de apresentar as minhas razões para ter largado o meu emprego. A leitura desse texto pode gerar várias reflexões e atitudes por parte de meus seguidores, mas eu não me responsabilizo por elas.
Sucesso a todos.