Morro de medo de viajar de avião. No início, sentia-me um “super-homem” nas alturas, mas, hoje, um pouco mais velho, valorizo muito mais a minha vida rsrs. Uma das últimas viagens que fiz me marcou bastante, peguei uma turbulência que durou mais de 30 minutos. Desde aquele voo, voltando do Panamá, temo demais viajar.
Cada vez que vejo uma notícia de catástrofe aérea, imagino que a minha próxima viagem será o meu fim rsrs. Quando o avião decola ou pousa, a primeira coisa que penso é naquela famosa afirmação de que os aviões, praticamente, só caem nesses momentos do voo.
O maior problema hoje, pelo que tenho visto, continua, como as estatísticas apontam, não sendo problemas técnicos em si nos aviões. Embora eu não acredite muito rsrs, os aviões são meios de transportes seguros. Nós não podemos, no entanto, prever as falhas humanas…
Grande sertão: veredas traz, entre outros assuntos, uma discussão muito reveladora sobre essa questão, o medo do desconhecido. Quem leu a obra deve se lembrar dos dizeres: “viver é muito perigoso”. A noção de risco coloca-nos à prova, hoje, constantemente. A sociedade contemporânea vive assombrada pelo desconhecido, e não é por acaso que há tantas investimentos em seguros.
Estamos tão especializados em nossos próprios estilos de vida que, por algum momento, é inculcada em nosso consciente, seja em virtude do discurso da fé, das relações sociais, bem como do discurso de consumo, a ideia de que nós precisamos nos “armar” contra os diversos riscos que nos circunda, afinal, ninguém “vive para sempre”, “é preciso investir no futuro, cuidar de nós mesmos e de quem nós amamos”.
De qualquer maneira, e do jeito que as coisas andam, eu acredito, de fato, que nós precisamos nos proteger, especialmente de algumas pessoas na sociedade. Sei que existem pessoas maravilhosas pelo mundo, e já encontrei diversas dessas pessoas, algumas, inclusive, já me ajudaram bastante.
Mas eu já encontrei cada tipo de gente que um pessimista constataria que viver é um verdadeiro martírio. Por essa razão, sempre fico com pé atrás com as pessoas. E faço essa afirmação, inclusive, porque as pessoas mudam e são muitos vulneráveis aos mais diversos estímulos.
Fiquei muito chocado quando soube que o piloto da Germanwings, Andreas Lubitz, decidiu pelo fim da sua própria vida bem como dos tripulantes do voo o qual ele era, profissionalmente, também, um dos responsáveis. Muitos disseram que ele cometeu suicídio, mas não acredito que seja possível cometer suicídio e decidir pela morte de mais de 170 pessoas.
Sei que a natureza do ser humano é muito diversa e que há todo tipo de gente por ai, estejam elas em um padrão social aceitável ou não. Aqueles que têm problemas e não estão à margem da sociedade, em um sanatório, ou em alguma instituição de recuperação psicológica, têm, ou deveria acreditar que têm, no entanto, responsabildiade social pelos outros, seja em relação ao que se diz bem como ao que se faz.
Imagine o sofrimento dos tripulantes desse voo. Fico me imaginando no lugar deles. E o pior, imagine o momento em que eles souberam, de fato, que iriam morrer? (Há casos de catástrofes aéreas, em que as pessoas morrem antes mesmo do “momento fatal” e não chegam a sofrer, de fato, por mais do que segundos).
(Confesso que não tenho muito maturidade para lidar com a morte e acredito, com um coração bobo e esperançoso de menino, que a morte está bem longe de mim, especialmente nesses casos repentinos.)
Vivemos o século da subjetividade. O individualismo nunca se opôs tanto à coletividade. As ideias de Freud sobre a psiquê humana anunciaram o homem contemporâneo e o lugar privilegiado de seu ego.
Os direitos sociais se opõem aos direitos coletivos e o indivíduo torna-se produto comercializado de si mesmo. Não é por acaso que Andreás afirmava que “ainda seria conhecido em todo o mundo”, afinal, a sua subjetividade adquiria status universal: “egofundamentalismo”.