A ilusão do “texto pronto”
Pesquisadores lidam com uma dificuldade recorrente: que o texto só deve ser enviado para revisão quando estiver “pronto”. Essa expectativa, além de ingênua, revela uma compreensão equivocada do processo de escrita. Textos acadêmicos não alcançam um estado final de perfeição; eles apenas chegam a versões possíveis em um intervalo de tempo. A escrita é um processo recursivo: você escreve, reescreve, corrige, altera objetivos, reorganiza capítulos, modifica fontes teóricas e retorna ao ponto inicial. Isso não é falha — é a estrutura normal do trabalho científico.
Por isso, o texto pode ser enviado para a Revisão a qualquer momento. Geralmente, a maioria dos pesquisadores envia antes da qualificação, antes da defesa e após as considerações da banca, por ser referirem aos momentos de avaliação, em que a banca espera uma versão mais lapidada. Como, muitas vezes, o pesquisador se debruça mais sobre conteúdo do que forma, além de não saber escrever em geral ou articular a língua(gem) à ontologia e epistemologia da pesquisa, além de não ser esta função do orientador, é extremamente natural que haja lacunas em relação à forma (aspectos ligados à ortografia, gramática, estilo e formatação).
Antes da qualificação: o processo de “costura” da Tese
A fase da qualificação é, para a maioria, o primeiro choque de realidade. O texto ainda está instável, mas precisa ser apresentado como se estivesse em plena coerência. Para alguns, é justamente neste momento que a tese deve ser revisada, a fim de que erros básicos e grosseiros não comprometam o que, precisamente, tem de ser avaliado — um excerto da pesquisa apresentada no trabalho.
Antes da defesa: quando o pesquisador acredita que o processo acabou (ah, coitado!)
Após anos de reescrita, o autor costuma achar que “agora vai”. Mas, pequeno gafanhoto, a banca trará as contribuições dela à sua pesquisa, além de tentar invalidá-la, o que, com certeza, ao menos exigirá modificação de alguns parágrafos ou mesmo capítulos. Em Programas de mestrado e Doutorado no Brasil, esse processo ocorre dessa maneira. A Revisão, nessa etapa, serve, justamente, para eliminar inconsistências e entregar um texto minimamente confiável para leitura. Não é uma etapa decorativa: é parte essencial do processo (não ouse encaminhar a sua tese para a Banca Examinadora sem enviá-la para um Revisor experiente, pois passará vergonha).
Após a banca: porque ninguém sai ileso de uma avaliação séria
Como mencionei anteriormente, as considerações dos avaliadores quase sempre exigem reescrita profunda — e, portanto, tornam a revisão novamente necessária. Nesse momento, surge um consenso entre revisores experientes: textos complexos e longos exigem, minimamente, duas ou mais revisões.
Não existe “revisão definitiva”. Existe revisão de uma versão específica. O autor altera o texto, e o texto exige, por sua vez, nova revisão. Simples. Não seja perverso a fim de atribuir a responsabilidade da autoria ao Revisor. Revisor não é messias, e a função da Revisão em si é complementar ao que foi feito pelo autor.
O revisor não é milagreiro (e o autor não escreve em condições absolutas)
A fantasia tupiniquim, em terras de João de Deus (Ê Goiás), de que o olhar do Revisor, em um único ciclo, é onisciente, onipresente e onipotente é, além de equivocada, injusta. O Revisor trabalha com o que recebe, no tempo acordado, sobre a versão disponível. E isso basta para desfazer outro mito acadêmico: um texto nunca está finalizado, portanto a Revisão também não contempla um processo absoluto.
Se somos humanos, e mudamos; o texto também muda; a revisão acompanha a mudança. E isso vale para todos — inclusive quem finge que não ou quem pensa que é responsabilidade do Revisor atuar, gratuitamente, durante todo o processo de escrita, durante todo o período de doutorado (alô justiça do trabalho, esses malandrões estão muito equivocados).
Então, afinal, quando enviar?
Quando você quiser. Quando puder. Quando o texto exigir — e ele sempre exige. E quando você puder pagar pelo serviço, pois o Revisor não está à sua disposição, gratuitamente.
Se quiser seguir o fluxo acadêmico:
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envie antes da qualificação;
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envie antes da defesa;
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envie depois da banca;
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e envie sempre que perceber que o texto está “fugindo ao seu controle”.
A Revisão não é etapa final. É parte constitutiva do processo de escrita. Quem entende isso avança; quem insiste em esperar o “texto pronto” só prolonga a ansiedade e compromete a qualidade do que produz.
Meu nome é Anderson Hander, e atuo há mais de 16 anos como Revisor de Textos. Sou Mestre em Linguística pela Universidade de Brasília (UnB), Especialista em Revisão de Texto(s) pelo Centro Universitário de Brasília (CESAPE-UniCEUB) e Graduado em Letras, também, pela UnB. Atuei no Supremo Tribunal Federal (STF), revisando livros de memórias jurisprudenciais dos Ministros; revisei, duas vezes, documentos (inventários) para um escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil, e documentos de órgãos públicos e ONG’s. Atualmente, reviso para uma revista científica na área do Direito, em Brasília, e cooriento pesquisadores de instituições federais e particulares de todo o Brasil (e, inclusive, estudantes que fazem mestrado no exterior, especialmente em Portugal).
Aguardo o seu contato!