O trabalho de um Revisor de Textos é desafiador, sobretudo quando se considera o vasto conjunto de interações que permeiam o exercício dessa profissão. Essas interações constituem diferentes configurações, dependendo da complexidade dos projetos em que o Revisor se envolve e do número de elementos envolvidos. Nesse sentido, em relação à produção textual (do outro), o Revisor está em busca de seu espaço, desenvolvendo estratégias de trabalho, estabelecendo prioridades em face das variáveis do processo e interagindo com os demais colaboradores, seja de maneira direta ou indireta, conforme as ferramentas empregadas, os gêneros textuais em questão e as questões linguísticas a respeito de determinadas circunstâncias.
Nesse sentido, pode-se pensar essa interação em várias perspectivas conforme a), b), c), d) e e):
a) o Revisor e o(s) texto(s) (original, tradução, revisão); b) o Revisor e as ferramentas de trabalho, que abrangem diversas categorias, incluindo i) instrumentos de normalização linguística; ii) materiais de referência fornecidos pelos clientes; iii) ferramentas de tradução assistida por computador e de apoio à revisão; c) o revisor e o cliente intermediário (agência de tradução); d) o revisor e o tradutor; e) o revisor e o cliente final.
Essa complexidade estrutural, intrínseca ao campo da revisão, espelha uma relação de dependência mútua, ainda que frequentemente assimétrica, entre os diversos elementos mencionados, uma vez que nem todos os colaboradores do processo detêm o mesmo poder de decisão.
Os aspectos previamente delineados podem ser associados à natureza dialógica inerente a qualquer produção textual. Nesse sentido, todo vocábulo tem duas facetas, moldadas por ambos os envolvidos na interação. Ela representa o resultado da interação em si. Isso é especialmente relevante no contexto da Revisão, em que há uma constante interação entre clientes, revisores. No caso de textos acadêmicos, por exemplo, ressalto o papel dos orientadores e da banca examinadora (os que “batem o materlo final em relação ao texto”), embora estes não interajam diretamente com o Revisor, já que este não é autor (o pesquisador em si). O Revisor desempenha o papel de “ouvinte” ao interpretar as instruções fornecidas e, simultaneamente, é um intermediador nesse processo, contribuindo para a criação de novos textos em sua língua materna. Durante essa interação, o Revisor deve considerar as intenções dos clientes, mesmo quando as informações sobre o público-alvo final são limitadas.
Por fim, vale ressaltar um elemento que permeia todas as fases do processo de Revisão, independentemente do padrão em questão: a linguagem inerente ao próprio Revisor. Os mecanismos de pensamento individuais do Revisor influenciam suas práticas de Revisão e suas intervenções no texto. Ao realizar modificações, o revisor age sobre o texto, mas também age por meio da linguagem, uma dimensão praxiológica. Com base em seus conhecimentos e competências, a voz da consciência do Revisor atua como mediadora, buscando equilibrar, por exemplo, as demandas da norma linguística com as expectativas dos clientes, que nem sempre coincidem.
O Revisor tem a flexibilidade de trabalhar para diversos clientes diretos (indivíduos ou empresas) e intermediários (agências de tradução). No entanto, é importante lembrar que o Revisor, nesse contexto, presta serviços. Portanto, assim como em qualquer relação comercial, um de seus principais objetivos é a fidelização dos clientes, atendendo às suas necessidades para garantir a continuidade de sua atividade e, claro, de sua fonte de renda. Dada a complexidade das condicionantes envolvidas, encontrar o equilíbrio entre as necessidades de todos os envolvidos no processo é uma tarefa desafiadora. No entanto, é inegável que, quanto mais diálogo e cooperação houver entre os diversos parceiros do circuito, maior será a qualidade do produto final, ou seja, do próprio texto.