Saindo de Santiago para San Pedro do Atacama

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À noite, acordei com a visão das estrelas, bem mais próximas de mim do que no Brasil. O céu estava lindo, límpido e bastante iluminado. A última cidade de que me lembro ter visto foi Antofagasta. Sei que a noite não é um bom referencial para fazer algum julgamento, mas achei a cidade muito bela. Pela manhã, passei por Calama (cidade do cobre) e percebi que havia algumas máquinas em alguns pontos do deserto. Um nativo, que me pediu água no ônibus, disse-me que o que vi era atividade de mineração. Ele também me disse que uma das maiores jazidas de cobre encontra-se em Calama. Apesar de ele estar um pouco bêbado, acredito eu, pelo cheiro de álcool e pela falta de nexo na conversa, ainda achei relevante parte de seus comentários. Ele não via a sua família há muitos anos, estava indo para Calama para reencontrá-los. Trabalhava como carpinteiro e, segundo ele, não havia “remédio” para ele mesmo. Despediu-se, depois de contar-me um pouco de seu sentimento de desaprovação por Pinochet e pelo governo chileno, seus gostos musicais e o significado de suas tatuagens.

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Fiquei inquieto no caminho para saber em quanto tempo chegaria em San Pedro de Atacama. Havia um visor no ônibus informando aos passageiros a respeito da velocidade média atingida. Inclusive, fui avisado, pela própria empresa que o ônibus não poderia ultrapassar, por lei, os 100 km por hora. O anúncio dizia que se os passageiros percebessem essa infração, deveriam chamar a atenção do motorista. Lembrei-me das continhas de física do primeiro ano do Ensino Médio: VM = delta S/ delta t rsrsrs (foi uma das poucas coisas que me lembro ter aprendido em física) e calculei em quanto tempo chegaria em San Pedro quanto avistei uma placa informando que de Calama para San Pedro eu ainda percorreria 102 km. Chegaria atrasado para fazer a minha primeira excursão pelo deserto: às 10 horas e alguns minutos. Pelo caminho, avistei várias hélices de usinas eólicas (e quase todas estavam paradas). Isso foi interessante porque me fez pensar nas teorias deterministas sobre o ambiente e questões econômicas. Enganam-se os que acreditam que não há nada no deserto. Quando comentei com alguns colegas que iria para um deserto, eles me olharam com dúvida… acredito que pensaram que não havia vida em um deserto ou beleza. Eles estão completamente enganados. O que tenho presenciado até agora foram muitas paisagens diversificadas, vários animais, tecnologia e cidades surpreendentes. Para ser poético e utilizando trecho de Grande Sertão: veredas, escrito por Guimarães Rosa: há um “grande sertão (deserto) dentro de todos nós”.  Faço referência ao sertão, pois é o que tenho mais próximo de desértico em meu país. Guimarães conseguiu fazer uma metáfora entre a universalidade humana e esses ambientes. Não é por acaso que esse livro pode ser compreendido em várias culturas, na Alemanha, por exemplo, porque a natureza do ser humano, assim como a complexidade de o que chamamos de “vazio” do deserto é imensurável. Adiciono a essa metáfora a dicotomia de nossas angústias: viver e morrer. Guimarães já dizia: “viver é muito perigoso”, porque “não sabemos”. Viver ou morrer, ser ou não ser, dia e a noite, a vida é cheia de dicotomias. Compreendê-las não faz sentido sem essa relação de oposição. Não tenho medo do mundo, tampouco de mim mesmo. Sei que viver é muito complexo e que poucas pessoas sabem lidar com isso. Essa relação de oposição valida os sentidos de quase todas as nossas questões existenciais. O que seria o Pantanal sem o deserto, o dia sem a noite ou ainda o ser humano sem a sua essência dicotômica? É o próprio conceito de pares mínimos de Saussure na linguística e também pode ser compreendido em uma perspectiva cultural por Levi Strauss na antropologia, o que na literatura é possível fazer poesia. Compreender um sistema linguístico, para muitos linguistas é possível, grosso modo, por uma relação de oposição de fonemas e morfemas. Por exemplo, em uma perspectiva sonora, que não irei simbolizar aqui, “pato” opõe-se a “gato”. Isso é interessante porque na língua, no caso do português do Brasil, ambos esses signos geram sentidos diversificados. O falante nativo e alguns estrangeiros rsrs conseguem diferenciar os diversos signos do sistema linguístico, por essa relação de oposição. É óbvio, no entanto, que isso não é um processo consciente. E ele ocorre em vários níveis, sonoros, morfológicos e semânticos. No caso de culturas, é possível compreender essa relação, por exemplo, pela própria organização de culturas/grupos que se opõem ou se excluem, o que é um aspecto interessante do conceito de identidade. Por exemplo, se eu me oponho a um grupo x é porque afirmo nessa oposição o que sou, a minha identidade. Isso deve ocorrer em nível individual e também social. Já na poesia, o que resta é o arranjo dessas palavras nesse tópico, que não precisa de rimas ou de uma estrutura de poema.

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Muitos não entendem porque viajo tanto e de onde vem a minha gana incessante por essas viagens. Viajar me ajuda a lidar comigo mesmo, a compreender melhor o mundo e a mim mesmo. Por meio das minhas viagens eu posso compreender os extremos de minha identidade, os polos que se opõem entre o que me forma regionalmente e o que sou de maneira universal. Isso me faz acreditar que não sou tão “pequeno” quanto a minha própria experiência, identidade e o ambiente de onde vim. Também me tranquiliza pensar que faço parte dessa imensidão, de algo maior do que eu mesmo.

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Santiago – dia 3

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Estou no terceiro dia de viagem. Ontem, pela tarde, comprei todo o itinerário que farei nestes próximos 15 dias no Chile:

1 – Sairei dia 27, às 9 e 30 de Santiago para San Pedro de Atacama. Chegarei lá, no dia seguinte, às 9 e 30, senão me engano, para iniciar o primeiro passeio pelo deserto às 10 horas (imediatamente após a minha chegada, com malas e tudo rsrs. Isso pela falta de tempo). Ficarei hospedado em umas cabanas. Contratei os serviços de uma empresa de turismo chamada MAXIM EXPERIENCE para conhecer o deserto do Atacama por 04 dias. Também contratei, os serviços de uma empresa turística boliviana para finalmente conhecer as lagunas verde e colorada próximas ao deserto de sal. Tive de fazer escolhas, pois há muito o que se ver no deserto, o ideal seria permanecer lá por uma semana, mas como eu decidi conhecer o Chile de norte a sul…

2 – Sairei dia 31 de dezembro de San Pedro às 14 e 51. Chegarei às 20 horas em Antofagasta, onde passarei o ano novo, em um apartamento alugado na beira da praia, próximo a La Portada. Há duas grandes atrações em Antofagasta: La Portada e a mão do deserto. A cidade de Antofagasta, pareceu-me bastante interessante. Na verdade, se eu tivesse de escolher entre Viñas del Mar e Antofagasta, pelo que pesquisei e pelo que vi em fotos e vídeos, iria, com certeza, para Antofagasta.

3 – Dia 01 sairei de Antofagasta às 12:00 para Caldera. Chegarei à noite lá. A vegetação da cidade parece muito bonita. A cidade localiza-se ainda no deserto do Atacama e encerra a sua formosura de frente para o oceâno pacífico, onde há (dizem) as melhores praias do Chile. E a água lá não é tão fria como em outras praias chilenas (dizem, vamos ver). O local mais bonito, pelo que pesquisei, é a Bahia Inglesa, águas cristalinas em tons azuis. Talvez seja um exagero dizer isso, mas pelo que vi em fotos e propagandas, poderia fazer uma comparação entre o mediterrâneo e essa parte da américa, vamos ver se essa minha impressão será confirmada pela minha experiência.

4 – Sairei de Caldera para Santiago dia 02 às 21 horas.

5 – Sairei no dia 03 de janeiro para Puerto Montt às 17 e 15 (chegarei lá pela manhã no dia 04, às 6 e 45).

6 – Sairei no dia 04 de Janeiro de avião para Punta Arenas. Em Punta Arenas, conhecerei a Isla de pinguins Magdalena. Além disso, pretendo conhecer os paredões de gelo que circulam esse pedaço chileno.

6.1 No mesmo dia, irei para Puerto Natales, onde ficarei dois dias. Lá farei o passeio torres del paine.

7 – Voltarei para Punta Arenas, ficarei lá um dia.

6 – Sairei às 20 e 40 de Puerto Montt no dia 08 de janeiro direto para Viña del Mar/Valparaiso.

7 Voltarei para o Brasil no dia 10 de janeiro.

 Uma dica para quem está indo ao deserto é: reserve os bilhetes de ônibus dias antes da viagem.  É possível comprar pela TOUR BUS quase todos os passeios de ônibus no Chile, de norte a sul…

Todos os itinerários acima para uma pessoa custam em torno de 645,00 reais. O interessante disso é a economia com hotéis. Eu dormirei provavelmente uns 4 dias em ônibus. Algumas viagens chegam a durar 24 horas (de Santiago a San Pedro de Atacama).

Gostei muito das empresas turísticas que me levarão para conhecer os principais pontos do deserto do Atacama. Elas prepararam roteiros personalizados de acordo com as minhas necessidades. Os passeios escolhidos incluem:

DÍA 1: 28 dic. (Salida: de ser posible, todavía por la mañana) VALLE DE LA LUNA y OJOS DEL SALAR Y LAGUNA SALAR
DÍA 2: 29 dic. LAGUNAS, SALARES ALTIPLÁNICOS Y PIEDRAS ROJAS

DIA 30: Laguna verde, Laguna Colorada na Bolívia, geiseres e deserto de Dali.

 Preciso me preparar para essa viagem, hoje, dia 26 de janeiro, conheci o centro da cidade de Santiago. Andei de metrô… Fiquei comparando o sistema do metroviário do Chile com o de Brasília. Achei interessante as mesmas mensagens padronizadas relacionadas à segurança, saúde e cidadania. As mensagens do Metrô do Chile, no entanto, são menos diretas do que as mensagens do METRÔ-DF. Os valores variam conforme o horário. 

Achei o centro de Santiago bastante organizado. Fui ao que eles chamaram de o maior shopping da América do Sul.

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Tive minhas dúvidas se realmente era o MAIOR. Havia uma torre gigantesca como parte do shopping, mas na verdade era um estabelecimento de serviços comerciais. Achei a cidade organizada e com boas opções de restaurantes. Não vi muitas opções de espaços públicos para lazer como encontrei em Buenos Aires. Após o passeio, voltei para o hotel, almocei e decidi descansar para guardar as energias para a grande viagem que me espera.

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