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Gramática de Jerônimo Soares: algumas reflexõesRESPOSTA ARGUMENTATIVALê-se “Grammatica he a Arte de falar e serevir corretamente a propria lingua” (…)Lê-se “… a Syntaxe finalmente, que ensina a coordenar estas palavras e dispol-as no discurso de modo, que fação hum sentido, ao mesmo tempo distinto e ligado”…QUESTÃO: considerando a proposta linguística de JSB quanto à distinção entre parte Mecânica e parte lógica, comente as proposições acima, relacionando: língua (a própria língua): syntaxe (língua); sentido(língua/linguagem), falante (língua/linguagem), falante (povo/nação) e apresente um trecho argumentativo que esclareça, a partir dessas relações, a proposta “filosófica” e “geral” de sua teoria linguística.RESPOSTA:A parte lógica, racional da língua, é relacionada às operações mentais/ intelectuais do pensamento. Sendo esse princípio comum à humanidade, seria possível deduzir a igualdade das línguas e a existência de princípios linguísticos gerais:“As palavras [são] sinais artificiais das idéas e suas relações, e como taes sujeitos ás leis psychológicas que nossa alma segue no exercicio das suas operações e formação de seus pensamentos. As quaes leis sendo as mesmas em todos os homens de qualquer nação que sejam ou fossem, devem necessariamente communicar ás linguas, pelas quaes se desenvolvem e exprimem estas operações, os mesmos princípios e regras gerais que as dirigem (Barbosa 1866: XI).”Correção para Soares é um conceito que deve ser levado em consideração quanto às culturas de povos civilizados. Nessa perspectiva, a noção de língua não envolve apenas meros instintos e sim princípios; gramática é arte, e gramático é considerado aquele que ordena, classifica. Para ele, o uso da fala é próprio de todos os seres humanos. Ou seja, língua é uma particularidade antropica. Linguagem seria uma ciência privativa aos gramáticos.Com relação aos termos nação e povo, para o primeiro é possível observar a relação entre os conceitos universais de língua citados por Jerônimo, como no trecho: “as palavras [são] sinais artificiais das idéas e suas relações, e como taes sujeitos á leis psychológicas que nossa alma segue no exercicio das suas operações e formação de seus pensamentos. As quaes leis sendo as mesmas em todos os homens de qualquer nação que sejam ou fossem, devem necessariamente communicar ás linguas, pelas quaes se desenvolvem e exprimem estas operações, os mesmos princípios e regras gerais que as dirigem (Barbosa 1866: XI).” Com relação ao segundo, o aspecto levado em consideração é o aspecto de correção: “… sendo a correção das línguas nacionaes hum dos objectos mais attendiveis para a cultura dos povos civilizados/…/ sabendo-a [a língua] por principios, e não por mero insticto, e habito,/…/ Sou servido ordenar, que os Mestres da lingua Latina, quando receberem nas suas Classes os discípulos para lha 1
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ensinarem, os instruão previamente por tempo de seis mezes, se tantos forem ecessarios para a instrucção dos Alumnos, na Grammatica Portugueza, com- “, percebemos nesse trecho o uso do adjetivo “civilizados” associado ao conceito de “povo”. Essa afirmação de Jorônimo retoma o seu discurso evolutivo das línguas, nas palavras de Manuel Amor Couto em sua tese entitulada, Gramática e teorização linguística em Portugal: a Gramática Filosóca de Jerónimo Soares Barbosa:
“As línguas passaram por quatro estados sucessivos, cada um deles ligado a um sistema específico de representação escrita. Um primeiro estado foi o da representação pictográfica, considerada pelo nosso autor como método sumamente imperfeito e primitivo. O segundo foi a representação hieroglífica dos egípcios, originado numa estilização do sistema pictográfico em que debuxos com valor simbólico serviram como significante de uma ou várias coisas. O terceiro sistema de representação foi o ideográfico, conhecido na Europa do tempo através das informações que se tinham da cultura chinesa. O cuarto estado é julgado como o mais perfeito e evoluído e corresponde com o sistema alfabético. Esta escrita, chamada literal, ocupou-se inicialmente da parte mecânica da linguagem, isto é, da série de sons que conformam cada língua e do sistema gráfico adoptado para a representação destes sons.”
Embora Jerônimo considerasse princípios universais para o falante, o objetivo do ensino de uma língua para um nativo consistia em ensinar a pensar, porque linguagem e pensamento estavam relacionados. A influência desse aspecto lógico/filosófico na gramática de Jerônimo possui herança gramatical e cultural francesa, com Port-Royal.Indico este artigo para mais reflexões:http://www.filologia.org.br/hilmaranauro/olegadodejeronimo.htmlREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS* BARBOSA, J. Soares (1866) [1822]: Grammatica Philosophica da LinguaPortugueza ou Principios da Grammatica Geral applicados á nossa linguagem (Lisboa:Typographia da Academia Real das Sciencias).* COUTO, Manuel Amor. Gramática e teorização linguística em Portugal: a GramáticaFilosófica de Jerónimo Soares Barbosa. Revista Galega de Filoloxia.(Disponível em: ruc.udc.es/dspace/bitstream/2183/2613/1/RGF-5-1-def.pdf
Gramática de Jerônimo Soares: algumas reflexões
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