Validação científica: como sabemos que sabemos?
Cientistas já acreditaram que toda a vida surgisse comum e regularmente de forma espontânea a partir de matéria não viva (“geração espontânea”); isto é, qualquer forma de vida poderia ser criada sob demanda a partir de coisas não vivas seguindo “receitas”. J. B. van Helmont (van Helmont 1671; Latour 1989) propôs a seguinte “receita”: se uma camisa suja for colocada na abertura de um recipiente contendo grãos de trigo, a reação do fermento na camisa com os vapores do trigo irá, após aproximadamente vinte e um dias, transformar o trigo em ratos. Assim,
Contemporaneamente, sabemos que isso não é verdade… Mas como van Helmont chegou a essa conclusão? Por meio da observação, embora sua explicação estivesse incorreta. E por que essa ideia foi rejeitada? Devido ao processo científico (mesmo que isso pareça óbvio para você atualmente. Concebem-se todas as pesquisa científica por meio de observação? Não! Existem pesquisas indutivas e pesquisas dedutivas, por exemplo, e isto é, apenas, uma pequena especificação sobre metodologia científica. Categorizam-se métodos científicos, grosso modo, a partir de determinadas características e, assim, surgem as nomenclaturas: pesquisa qualitativa, pesquisa quantitativa, pesquisa qualiquantitativa, pesquisa indutiva, pesquisa dedutiva, pesquisa de campo, estudo de revisão bibliográfica… Na verdade, há diversas maneiras de fazer pesquisas. Em cada ciência, em cada departamento de pós-graduação, há uma tradição de pesquisa. Validação científica: como sabemos que sabemos?
Propôs-se a geração espontânea após a realização de várias observações. Van Helmont, então, formulou uma hipótese, posteriormente refutada por evidências contraditórias (e quem a refutou? Uma comunidade científica! Pesquisas e novas descobertas ganham respaldo e cientificidade, principalmente, quando validadas, e, às vezes, replicadas por uma comunidade que reconhece essas pesquisas. Apresentam-se essas pesquisas, muitas vezes, em Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), Artigos Científicos, Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado). Nessa perspectiva, propuseram e testaram-se novas hipóteses, demonstrando o caráter dinâmico do método científico. Resumidamente, este é o processo científico baseado em evidências. Surge da atuação de um cientista e se propaga pela comunidade científica (e onde estão estes cientistas? Nas universidades por todo o mundo, especialmente nos programas de pós-graduação stricto sensu, que têm caráter científico, de formação de cientistas). Assim,
Um exemplo mais recente do processo científico em ação é declarar o tabagismo como prejudicial. Ainda em 1978, o veredicto sobre se o tabagismo é prejudicial era debatido: “… muitas pessoas eminentes, comitês e comissões concluíram unanimemente que o câncer de pulmão ‘é quase inteiramente devido ao tabagismo’. Eu já compartilhei essa visão, mas tendo agora estudado as evidências com mais detalhes e sob novos ângulos, sinto-me incapaz de chegar a uma conclusão definitiva…” (Burch (1978), p. 456). Assim,
Formulam-se algumas pesquisas com base em hipótese(s). Outras, com base em questionamento(s) de pesquisa, problema(s) etc. Aceita-se uma “verdade”, temporariamente, até que surjam evidências contraditórias (se alguma vez surgirem). Concebe-se o conhecimento científico em um processo semelhante:
- Como sabemos a duração da gestação do Potorro de Gilbert (Stead-Richardson et al. 2010)? Validação científica: como sabemos que sabemos?
- Como sabemos que o paracetamol alivia a dor (Weil et al. 2007)?
- Como sabemos que o exercício é bom para nós (Curfman, 1993)?
- Como sabemos se a tecnologia de pavimentação permeável é eficaz na redução do escoamento (Mullaney e Lucke 2014)?
Além disso, não se concebe a verdade unilateralmente, na perspectiva, apenas, de uma ciência. Considera-se, nesse sentido, a realidade, multifacetada. Ou seja, as várias ciências se completam e são inter, multi e transdisciplinares. Assim,
Fonte: https://bookdown.org/pkaldunn/Book/_main.pdf