A Revisão como exercício de pensamento crítico e social

A revisão de textos é uma atividade fundamental para o processo de escrita, e visa aprimorar a qualidade e a clareza de produções textuais. Tradicionalmente, compreendia-se a revisão como uma etapa subsequente à produção escrita, cujo principal objetivo limitava-se à correção de inadequações ortográficas, gramaticais (em relação à linguagem formal). No entanto, contemporaneamente, questiona-se essa concepção limitada, e compreende-se a revisão de maneira mais ampla e reflexiva.

Não deve ser encarada, portanto, como uma etapa linear e isolada, mas sim como uma atividade recursiva, que pode ocorrer em qualquer momento do processo de escrita. Essa abordagem reconhece a complexidade da Revisão e destaca a importância de considerar diferentes aspectos do texto, além de, apenas, a dita (e superficial) “correção de português”, em que o autor espera uma redenção absoluta de seus erros no Revisor. Nesse sentido,

Destaco a revisão como uma atividade reflexiva, que envolve o exercício do pensamento crítico e a busca pela redução de inconsistências e ambiguidades no texto. Muito além de uma busca pelos ditos “erros”, a revisão contempla a análise da estrutura, coerência e coesão do texto. E constitui, também, um compromisso entre Revisor e autor, além de responsabilidade social em relação ao próprio ato de pensar, o que não me surpreende ver tantos “revizores” por aí… Primeiramente,

Constitui, portanto, um momento privilegiado para tornar consciente a alienação do mundo, especialmente evidenciada por meio da língua, do texto, e das escolhas infelizes. Ao receber um texto revisado, o autor confronta-se com as construções que elaborou, e pode tomar consciência e refletir sobre suas próprias ideias.  Portanto,

Essa reflexão implica uma análise crítica das próprias concepções e influências externas que moldaram sua linguagem. Dessa forma, contempla um ato de questionamento, em que o autor confronta-se com suas próprias representações, e com a interação entre sua subjetividade e o mundo que o envolve. Assim,

A Revisão também consiste em um processo dinâmico e interativo, seja com o autor; seja com os possíveis leitores do texto. Nesse contexto, considera-se a importância da empatia e da adoção da perspectiva do outro durante o processo de Revisão, que também é exercício da alteridade, afinal, o autor não escreve para ele mesmo, e cada gênero textual é um texto em um contexto. O retorno ao texto por meio da Revisão

A escrita na Era dos Algoritmos

A influência dos algoritmos na produção textual

Será que você, ainda, consegue escrever como sujeito que reflete, que elabora, que transcende? Aliás, se isso foi possível algum dia, o que está acontecendo atualmente? Já nos acostumamos a produzir discursos guiados por tendências, por algoritmos que nos convencem sobre o que deve ser dito, como deve ser formulado e em qual tom deve ser apresentado.

Afinal, ao não seguirmos essas tendências, nos resta a invisibilidade e o esquecimento. Nesse contexto, eu pergunto: o que está acontecendo com a nossa capacidade de produzir textos além da mera repetição de fórmulas e estilos que circulam incessantemente pelas redes sociais?

Atualmente, a escrita e o discurso* são moldados por plataformas que limitam o tempo, o espaço e, inclusive, a forma como argumentamos. Quantas vezes você se observou escrevendo mais para agradar o algoritmo, para obter curtidas e compartilhamentos, do que para expor uma ideia autêntica e complexa?

As redes sociais impõem uma estética discursiva baseada na brevidade, na viralização, na emoção rápida, e acabam por desestimular a elaboração cuidadosa, o desenvolvimento lento de um raciocínio.

* Não penso escrita e discurso separados. Mas faço essa segmentação para indicar a escrita como materialização do discurso, e o discurso para o plano mais abstrato, potencial.

Será que ainda conseguimos sustentar uma escrita que busca transcender o imediato? Que se arrisca na complexidade, no aprofundamento, no incômodo? Ou a lógica da exposição digital já nos treinou para evitar qualquer esforço que não se traduza rapidamente em performance, engajamento ou aceitação pública?

O impacto das tecnologias digitais na subjetividade

A naturalização do uso de ferramentas digitais — de sistemas de produção automática de texto, mas também das dinâmicas próprias das redes — está transformando radicalmente a nossa relação com a escrita, especialmente com a escrita acadêmica e intelectual. Se antes o desafio era evitar o plágio, hoje é evitar a substituição completa do próprio ato de pensar.

Tecnologias como o ChatGPT organizam informações com velocidade e precisão impressionantes, mas não são capazes de produzir subjetividade, tampouco de sustentar a criatividade, o que caracteriza a verdadeira produção intelectual. O discurso que emerge dessas mediações tende à homogeneização, ao previsível, ao automatizado.

Se antes escrevíamos para elaborar o mundo e nos transformar com essa elaboração, agora escrevemos para sermos consumidos, aprovados, curtidos. A escrita, nesse cenário, deixa de ser uma via de transcendência, de acesso ao que está além do imediato, e se reduz a uma função pragmática: responder, interagir, se manter visível.

O que está em jogo, então, envolve mais do que o futuro da escrita: trata-se da preservação do pensamento. A normalização do uso de ferramentas que evitam a “dor de pensar” — com a promessa de escrita, decisão e estruturação de argumentos automáticas — implica a substituição do sujeito que escreve, a dispensa da interioridade e a prescindibilidade da subjetividade no discurso.

Você já se perguntou o que perdemos, como sociedade, quando escrever deixa de ser um ato de elaboração subjetiva e se torna apenas um produto funcional, ajustado ao que o algoritmo favorece/ é capaz de oferecer? Quantos de nós ainda resistem ao esvaziamento da escrita como espaço de transcendência, como prática de liberdade intelectual?