Observação participante

 Observar, na perspectiva qualitativa, não tem o mesmo significado do método empírico, embora, por meio da observação participante, seja recomendável a busca por vários pontos de vistas, de vários sentidos, o que não significa que devemos confiar somente nesses sentidos e orientar nossa pesquisa exclusivamente por meio deles. A observação participante permite elucidar aspectos da experiência de um grupo, a partir de suas práticas sociais cotidianas e de suas interações face a face, com quem o pesquisador propõe-se a conviver.

Nesse sentido, Valladares (2007, p. 300-320) cita os dez mandamentos da observação participante:

 1) – A observação participante implica, necessariamente, um processo longo. O tempo é também um pré-requisito para os estudos que envolvem o comportamento e a ação de grupos;

2) – O pesquisador não sabe de antemão onde está “aterrizando”. Equivoca-se ao pressupor que dispõe do controle da situação;

3) – A observação participante supõe a interação pesquisador/pesquisado. As informações que obtém, as respostas que são dadas as suas indagações, dependerão do seu comportamento e das relações que desenvolve com o grupo estudado;

4) – O papel da pessoa de fora, enquanto pesquisador, terá que ser afirmado e reafirmado;

5) – Uma observação participante não se faz sem um intermediário que “abre as portas” e dissipa as dúvidas junto às pessoas da localidade;

6) – O pesquisador quase sempre desconhece sua própria imagem junto ao grupo pesquisado. O pesquisador é um observador que está sendo todo o tempo observado.

7) – A observação participante implica saber ouvir, escutar, ver, fazer o uso de todos os sentidos. É preciso aprender quando perguntar e quando não perguntar, assim como que perguntas fazer na hora certa;

8) – Desenvolver uma rotina de trabalho é fundamental. O pesquisador não deve recuar em face de um cotidiano que muitas vezes se mostra repetitivo e de dedicação intensa. Sua presença constante contribui para gerar confiança na população estudada.

9)  – O pesquisador aprende com os erros que comete durante o trabalho de campo e deve tirar proveito deles, na medida em que os passos em falso fazem parte da pesquisa;

10) – O pesquisador é, em geral, “cobrado”, sendo esperada uma “devolução dos resultados do seu trabalho. “Para que serve esta pesquisa” “Que benefícios ela trará para o grupo ou para mim?”.

 Para Valladares (2007), a observação participante ocorre a partir de imersão que se dá no tempo e na qualidade das relações estabelecidas com os atores sociais. O pesquisador também é objeto de observação e questionamento pelos investigados e deve se manter atento aos pormenores do grupo pesquisado.

De acordo com Emerson et al. (2007, p. 353–357), ocorre em algum ambiente natural a longo prazo a fim de o pesquisador investigar, experimentar e representar a vida social que ocorre nesse cenário. Além de empatia e questões éticas para imersão do pesquisador em novas realidades sociais, envolve tomada e elaboração de notas descritivas sobre o contexto e a cultura estudados.

Trecho de dissertação de mestrado de Anderson Hander.

Para citar: Xavier, Anderson Hander Brito. Viajar e punir: processos interacionais e discursivos para (des)construção de cidadania(s) na Companhia do Metropolitano do Distrito Federal. Dissertação. Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas. Universidade de Brasília, Brasília, 2015.

Capítulo 3: Metodologia sobre trilhos: o percurso científico

3.3.1 Observação participante

Link para download e consulta de referências: https://criteriorevisao.com.br/processos-interacionais-e-discursivos/

Pesquisa qualitativa

 O século XX representou o século de grandes transformações na sociedade. No âmbito da ciência humanas, especialmente devido ao fato de esse ser o século de consolidação das ciências antropologia, psicologia e linguística, questões relacionadas à metodologia e, inclusive, a respeito da própria concepção de verdade, de seus objetos de estudo, bem como as dicotomias subjetividade versus objetividade, foram reformuladas. Essas transformações são muito reveladoras no sentido de terem acompanhado a fragmentação do “indivíduo” na sociedade, de seus direitos e de suas vozes, bem como a divulgação das ideias de Freud sobre a psique humana. Atkinson (2007) aborda essa mesma questão a partir das contribuições da etnografia para os estudos culturais e de como, também, estes influenciaram aquela. A pesquisa qualitativa surge, pois, como instrumento metodológico que emergiu dessa reconfiguração científica no século XX, permitindo, como é o caso deste estudo, a audição de diversas vozes que se mantêm inaudíveis na sociedade.

Segundo Godoy (1995, p. 20), a abordagem qualitativa, “enquanto exercício de pesquisa, não se apresenta como proposta rigidamente estruturada, ela permite que a imaginação e a criatividade levem os investigadores a propor trabalhos que explorem novos enfoques”.

Para Angrosino (2009, p. 9), o fundamento da pesquisa qualitativa encontra-se no fato de ela abordar o mundo exterior, real, e não o mundo artificial, projetado a partir de experimentos forjados em laboratórios. Portanto, é nesse sentido, levando-se em consideração interações face a face nos Centros Urbanos do Distrito Federal, que este trabalho foi desenvolvido.

Nesse sentido, Johnston (2000. p. 21-33) afirma que o gerenciamento do processo de pesquisa deve ser conduzido em questionamentos de pesquisa claros e bem desenvolvidos. Além disso, segundo ela, trabalhos em sociolinguística são de natureza interpretativa, em que a interpretação envolve variáveis de outros tipos. Esse conceito alinha-se ao que intitulo neste estudo como “geração de dados”, o que significa dizer que os dados desta pesquisa não estavam “prontos a minha espera”, mas formularam-se a partir do meu olhar como pesquisador.

Por essa razão, não proponho a metodologia deste estudo orientada a partir de pressupostos, mas de questões de pesquisa e de considerações finais, o que projeta este estudo para uma abordagem qualitativa. Nessa perspectiva, não busquei, durante a elaboração deste trabalho, problematizar uma suposta “tese”, atribuir-lhe solução e redigi-la de maneira impessoal, em busca da utópica objetividade científica ou de uma falsa neutralidade que supostamente revelaria a separação, marcada nos aspectos estruturais deste gênero, entre mim e o meu objeto de estudo. Agora, a voz do pesquisador, no caso a minha voz, poderá ser audível, a partir de incursões, em primeira pessoa, de minhas experiências e interpretações.

Trecho de dissertação de mestrado de Anderson Hander.

Para citar: Xavier, Anderson Hander Brito. Viajar e punir: processos interacionais e discursivos para (des)construção de cidadania(s) na Companhia do Metropolitano do Distrito Federal. Dissertação. Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas. Universidade de Brasília, Brasília, 2015.

Capítulo 3: Metodologia sobre trilhos: o percurso científico

3.2 Pesquisa qualitativa

Link para download e consulta de referências: https://criteriorevisao.com.br/processos-interacionais-e-discursivos/