Realismo brasileiro

  • MEMÓRIAS DE UM LETRISTA: REALISMO BRASILEIRO
    Considerando a dialética entre forma literária e processo social, discuta a seguinte questão formada por Roberto Schwarz: ” e por que não pode ser brasileira a forma do realismo europeu”?
    Essa reflexão já aparece em algumas obras de Machado de Assis, como a dificuldade de identificação do tema, por exemplo, em Esaú e Jacó. Essa problemática surge em oposição ao movimento realista europeu, em que as temáticas eram mais transparentes. De acordo com Schwarz, há uma ambiguidade para com o “modelo realista” machadiano. Nos primeiros romances, Machado trata do patriarcalismo conservador, que, embora ilustre uma característica da sociedade brasileira, parece ser muito específico diante das transformações que o Brasil passava no século XIX e do sistema econômico vigente.
    Esse patriarcalismo, inclusive, pode ser observado no próprio narrador; “um defunto
    narrador”; o narrador de Machado nesse aspecto é arbitrário. Esse retrato parece destoar e estar atrasado em relação à realidade brasileira da época. É mais condizente com nossas relações sociais ainda muito ditadas pelo peso do trabalho escravo. Esse afastamento tem como intuito a aproximação de sua literatura à tradição europeia do romance. “Havia uma intenção realista neste antirrealismo conservador “. Para Machado, não faz sentido falar da estrutura econômica atual, das desigualdades e da miséria como temas centrais de uma sociedade ainda presa à estrutura patriarcalista da escravidão. Embora essa forma do realismo de Machado não tenha sido “original”, embora sua inspiração também seja europeia para com esse “modelo de realismo brasileiro”, cabe uma reflexão aqui entre o universal e o particular. É na base da forma europeia anterior ao realismo europeu vigente que Machado conduz o realismo brasileiro.
    A forma do realismo europeu não pode ser brasileira na medida em que, embora não seja sincrônica ao realismo europeu, retoma uma forma europeia do século XVIII e baseia-se na forma de autores europeus como Machado baseou-se em Diderot. É brasileira, no entanto, quando Machado busca no texto europeu construir o nosso sistema social, e não europeu. Embora o contexto seja diverso para o atual realismo europeu, ele encontra a forma do realismo brasileiro, o que lhe é particular. Estamos diante dos elementos universais europeus, particulares à realidade brasileira. Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” fica claro que a descontinuidade cronológica, ali presente, reflete o nosso processo social. Essa falta de lógica na continuidade cronológica do romance é, na verdade, lógica; representa muito de nossa literatura, de nossa história e de nosso processo de formação social em contraposição ao que ocorria na Europa, onde a história pode ser melhor divida e o nacionalismo é mais carregado, onde a identidade nacional não é tão recente e não traz questões duvidosas.
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