Programação visual e produção gráfica

Publicação de livro

Gostaria de compartilhar este texto com os meus leitores. São algumas reflexões muito importantes sobre o processo de publicação de livros.

 

Programação visual e produção gráfica

Do prelo manual às artes digitais. O programador visual e arquiteto Danilo Barbosa fala sobre os diversos passos da produção gráfica, as ferramentas de ontem e de hoje, e o papel do revisor no processo.

Danilo Barbosa

Desde 1968 tenho lidado com projetos cujo produto final é o material impresso. A cada dia temos que nos atualizar, já que o processo é muito dinâmico, com o advento das novas técnicas e com o avanço da tecnologia. Convivi com artes-finais cujos desenhos e até letras eram feitas com tira-linhas e pincéis, tintas nanquim e guache. Passei pelos textos impressos em prelo manual, chegando hoje até as artes digitais.

Na década de 60, a formação do arquiteto na UnB nos permitia explorar os diversos campos das artes visuais. E foi assim que comecei a me identificar com as artes gráficas e com a programação visual em seus mais diversos aspectos, tais como: criação de símbolos, programas de identidade visual de empresas, planejamento de publicações, cartazes, e mais tarde com projetos de sinalização do edifício e de áreas urbanas.

Vivemos hoje numa “sociedade visual”, como afirma Gilberto Strunk em seu livro Um olhar visual. Somos bombardeados, durante todo o tempo, com mensagens visuais em jornais, revistas, televisão, em outdoors, na internet, enfim, em todos os lugares. Tanto estímulo à nossa visão nos leva a criar expressões como “Você viu o texto do fulano?”, em vez de “Você leu…”.

Existem livros que tratam desse assunto com a profundidade requerida (vide Produção Gráfica, de Lorenzo Baer – Ed. Senac), porém, neste contexto, cabem apenas algumas poucas considerações para situar o leitor e talvez motivá-lo a buscar mais conhecimento sobre o tema.

Reportemo-nos ao processo da criação e da produção gráfica, situemo-nos na elaboração e confecção de material impresso em papel.

O primeiro passo para iniciar a produção é ter textos em originais bem elaborados e devidamente organizados, e imagens (desenhos, gráficos, fotos, ilustrações etc.), quando for o caso. Para se chegar a esse ponto, já houve a participação de profissionais, quer da área técnica à qual se refere o material, quer da área de comunicação social ou de publicidade.

Nesse momento, o revisor ortográfico já pode estar trabalhando. Tal profissional por vezes é contratado para fazer não só a revisão ortográfica, mas também o trabalho de copidescagem, que significa reescrever e corrigir partes do trabalho com o objetivo de dar unidade ao texto final, quanto aos aspectos de estilo, tratamentos etc.

O passo seguinte é buscar um profissional de programação visual que, devidamente informado dos objetivos do trabalho, vai desenvolver um projeto gráfico, que será traduzido em um leiaute a ser submetido ao contratante.

Com o avanço da tecnologia do computador surgiram inúmeros pseudoprofissionais que, por dominarem a máquina e conhecerem os programas gráficos, se lançaram no mercado como programadores visuais ou designers. Como em todas as áreas do conhecimento humano, o estudo teórico é fundamental para a formação de um profissional.

Atualmente os programas de computador mais consagrados para a realização de estudos e artes finais são: Corel Draw, Illustrator, Photoshop e InDesign

Os programas gráficos são ferramentas potentes para a elaboração de leiautes e artes-finais, contudo, não se pode imaginar um bom projeto sem o concurso de um bom esboço,  com a naturalidade do traço manual. O mesmo podemos dizer de uma ilustração executada com as técnicas manuais de desenho e pintura – contém a alma do ilustrador. Entretanto, hoje os programas possuem muitos recursos e alguns dos artistas da nova geração já iniciaram usando e abusando da tecnologia. Como exemplo, os que trabalham com pintura digital – os artistas “tecnológicos”.

Após a aprovação do estudo, passa-se à execução da arte-final, que é o início do processo de produção gráfica. Da sua qualidade depende o resultado final do material impresso. Nessa etapa, o programador visual ou designer submeterá sua arte ao revisor, que fará o cotejamento com os originais fornecidos. Dependendo da complexidade do trabalho, são necessárias várias revisões. Aprovada a arte-final, ela será encaminhada para a gráfica.

Hoje temos várias possibilidades para a impressão de um trabalho. A decisão sobre qual técnica usar está diretamente ligada à demanda do material, considerando quantidade, qualidade, prazo de produção, e ainda, detalhes de acabamento do produto.

A impressão tipográfica que utiliza tipos de chumbo e de clichês é sugerida para acabamentos especiais como relevo seco e hot stamp – sistema de impressão utilizado para pequenos detalhes com efeito metalizado. A impressão não recebe tinta, mas aquecimento, permitindo gravar o conteúdo desejado em uma tira de material sintético revestida de uma fina camada metálica.

 Mais recentemente, esses equipamentos começam a retornar ao mercado para produção de efeitos diferenciados na impressão, conhecido hoje como letterpress. Ainda. em alguns casos, pode ser utilizada para impressão de trabalhos que reportem a um estilo mais antigo, como ainda se faz nas impressões de revistinhas de cordel. As impressoras tipográficas são também utilizadas para recortes especiais em impressos, com a utilização de facas especiais para confecção de envelopes, caixas e qualquer outro produto que demande um formato diferenciado.

Os equipamentos a laser, por razões de custo, são utilizados para tiragens pequenas. O processo ofsete é mais econômico, quando se fala em grandes tiragens, graças à sua alta produtividade.

Os processos digitais apresentam ainda padrões de qualidade ligeiramente inferiores ao processo ofsete, apesar da grande evolução por que vem passando nos últimos anos. Os equipamentos de impressão digital a laser são grandes replicadoras que se utilizam de toner – o processo de transferência para o papel é eletrostático. Os arquivos são enviados em meio digital e a partir deles é feita a impressão.

No processo ofsete a partir de arquivos em papel ou digitais, são produzidos fotolitos, que são filmes fotográficos utilizados para a sensibilização de chapas de alumínio (vale registrar que recente tecnologia já permite a gravação de chapas sem a produção de fotolitos). As chapas são utilizadas nas impressoras para a transferência da tinta para uma borracha, chamada blanqueta, que funciona como um grande carimbo que aplica a tinta no papel.

Em qualquer desses processos, antes de realizar a impressão final, são feitas provas (antigamente em prelos manuais, hoje impressas digitalmente) que ainda passam pelo revisor ou pelo programador visual, para uma última verificação, e – aí sim – é autorizada a impressão final. Poder-se-ia perguntar – qual a necessidade dessa revisão? Ela é a comprovação de que não houve nenhuma desconfiguração da arte produzida, o que é perfeitamente possível ocorrer, principalmente quando se trabalha com artes digitais e programas de computador em diferentes versões.

Para garantir a qualidade de um impresso e sua viabilidade econômica é preciso que o profissional de programação visual tenha um bom conhecimento dos tipos de papel disponíveis no mercado e sua aplicabilidade para cada caso. O bom aproveitamento dos cortes, em função das medidas das folhas e do equipamento a ser utilizado na impressão, também é importante.

Após a impressão de um trabalho, dependendo das suas características, ele passa ainda pela etapa de acabamento. Pode ser um simples refilo, corte final de um cartaz, por exemplo. Os papéis usados para a impressão são cortados um pouco maiores que sua medida final para permitir um corte que lhes dê acabamento.

Folhetos podem exigir vincos e dobraduras. Existem equipamentos que realizam esse trabalho. Pode haver a necessidade de se grampear ou furar, e em alguns casos cortes especiais, que via de regra são feitos com facas especiais, em máquinas tipográficas.

No caso de um livro, é feita a dobra e o alceamento (coleção e organização) dos cadernos, que por sua vez são costurados e colados, ou somente colados. Depois é feita a colagem da capa e o refilo final. Tal procedimento é um pouco diferente quando o livro é de capa dura.

Como diz o ditado popular: “Cada caso é um caso”. Assim, cada trabalho gráfico pode requerer diferentes papéis, maneiras de impressão e de acabamento.

As impressões nas chamadas policromias – trabalhos coloridos – são feitas com a mistura das quatro cores básicas de tinta: ciano, magenta, amarelo e preto – CMYK (do inglês Cyan, Magenta, Yellow, Black). Em alguns casos são usadas impressões em cores especiais, referenciadas a um padrão internacional denominado Pantone, e ainda cores metálicas, como ouro, prata ou bronze. Vernizes são utilizados em capas foscas para destacar determinadas áreas, dando-lhes brilho. Papéis especiais conferem aspectos mais sofisticados a determinados trabalhos. Recursos como plastificação e laminação BOPP são largamente utilizados para conferir mais durabilidade e sofisticação ao produto.

Enfim, os recursos oferecidos na área gráfica são muitos, e para melhor explorá-los não basta saber que existem – trabalhar com profissionais competentes é o caminho para sua apropriação mais correta, sem nos esquecermos que, com o avanço crescente da tecnologia, materiais e técnicas se tornam obsoletos do dia pra noite.

Danilo Barbosa, maio/2013

Texto publicado em “Além da Revisão – Critérios para revisão textual” – SENAC, 3. ed., p. 128

Antonio Danilo Morais Barbosa, arquiteto, foi professor da UnB, programador visual da Gráfica do Senado, coordenador-geral da área editorial e de programação visual do Inep/MEC. Hoje pertence ao quadro da Codeplan/GDF. Tem atuado como profissional em trabalhos de programação visual, área em que realizou diversos projetos, tais como: símbolo do Ibama, identidade visual das publicações do Inep, sinalização dos edifícios do STJ (prêmio na Bienal de Arquitetura do DF, em 1999). Foi  vencedor do concurso para o  símbolo dos 50 anos de Brasília. Atuou como coordenador do projeto de sinalização urbana de Brasília nos anos 70.

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