Uso de letra maiúscula em textos acadêmicos
Outro dia recebi um comentário de alguém dizendo que o uso de letra maiúscula deve se respaldar, rígida e inflexivelmente, em manuais como o da Imprensa ou da Presidência da República (santa ignorância!). Para o caso de linguagem formal de textos acadêmicos, nenhum pesquisador, de área alguma, faz consultas a manuais como o da imprensa (eu nem me lembrava que isso existia, para dizer a verdade), tampouco um Revisor de Texto deve se orientar com base nesses manuais. Manual, inclusive, arcaico (esse manual, assim como o jornalismo em si como atividade, não tem, atualmente, tanta influência como no passado (ainda bem).
O messianismo gramatical em outras áreas
O que norteia o texto acadêmico, científico, não é o manual da imprensa, tampouco a prática de Revisão de Textos (Revisão de Textos acadêmicos, Revisão de Textos jurídicos, Revisão de Livros). Na verdade, nós, Linguistas, autoridades sobre Língua, fazemos grande crítica a alguns paradigmas oriundos de áreas como o jornalismo, que mitificaram questões linguísticas/textuais/gramaticais, de maneira prescritiva e não científica, durante muito tempo, em virtude de terem maior prestígio/domínio social no Brasil. Em Linguística, há um ramo chamado Linguística Textual, responsável por trazer reflexões científicas sobre o texto. E parte do pensamento que proponho para a minha Revisão se assenta nessas reflexões.
Onde NÃO encontrar respostas sobre questões gramaticais/linguísticas
O manual da imprensa não constitui um manual linguístico, que descreve, por exemplo, cientificamente, a língua; tampouco compõe o padrão de textos acadêmicos. Eu sou Linguista (mestre na área, e o meu objeto de estudo é a Língua, o Texto, o Discurso). Há vários paradigmas em Língua, propagados por professores e jornalistas desinformados no Brasil, ao longo de décadas, que estão completamente equivocados, e isso está no inconsciente do brasileiro a respeito da Língua Portuguesa do Brasil (por exemplo, o uso de letra maiúscula após dois pontos, mesmo em caso de citações. Não se usa letra maiúscula após dois pontos, a não ser no caso de nomes próprios etc. O texto constitui uma unidade, após dois pontos, não se deve interromper essa ligação com letra maiúscula).
Letra maiúscula como recurso/destaque gráfico
Você pode, como autor(a) do texto, grafar QUALQUER vocábulo em letra maiúscula desde que haja uma justificativa/contexto para tal (por exemplo, se você é Professor(a), e quer valorizar a sua prática ou a prática dessa categoria tão importante, deve grafá-la em letra maiúscula. A língua não se configura em sentenças declaratórias de manuais de redação jornalístico de décadas passada (esses manuais, na verdade, se referem ao uso para um grupo de editores, por exemplo, de uma revista, de um grupo, mas não constituem o padrão nacional ou acadêmico/científico de uso).
Desconstruindo pensamentos infundados sobre uso de letra maiúscula
Cada gênero textual tem seus próprios padrões. Além disso, a Língua é muito mais dinâmica do que parece. Você pode, inclusive, grafar o termo “presidente” ou “deus”, se quiser, em letra minúscula, se houver uma justificativa para tal, em determinados gêneros textuais (por exemplo, você pode, atualmente, redigir um texto fazendo referência ao presidente da república com letra minúscula, em virtude da péssima atuação deste, mesmo que ele seja, oficialmente, “Presidente” (cargo importante, de alta hierarquia)), e o próprio manual de redação oficial da presidência sugira esse uso. Essas fórmulas decorebas de Língua Portuguesa, utilizadas em concurso público, também, são estigmatizadas em termos científicos).
Por exemplo, se você receberá um título de mestre(a) ou doutor(a), na área de Educação, e redigiu uma Tese de Doutorado sobre Educação, faz sentido marcar TODAS essas ocorrências em seu texto com letra maiúscula, inclusive, as citações (sim, inclusive, as citações. E eu explico no vídeo a razão disso). E isso se articula ao paradigma científico/ideológico da área de Educação. E ciência alguma é neutra, portanto, essa preocupação com a Língua alinha essas questões. O texto constitui uma unidade. A partir do momento em que você traz uma citação de outrem para o seu texto, você pode fazer essa alteração, porque o texto é seu e você está adequando, nesse caso, o texto de alguém ao seu (e isso não implica alteração do original de conteúdo, é uma alteração gráfica, como se fosse um negrito).
Você é autor do próprio texto e senhor do próprio destino!
Você tem essa liberdade como autor do próprio texto (viva!). O uso de letra maiúscula em textos acadêmicos segue outro padrão de organização. Alguns textos acadêmicos, inclusive, podem ser redigidos em primeira pessoa do singular “eu”. Isso se deve a uma dita virada cultural nas ciências e na sociedade nas últimas décadas do século XX. O próprio texto, durante muito tempo, nunca foi concebido como objeto de estudo científico. Mas isso mudou, a partir de meados da década de 1950, quando os estudos em Linguística Textual começaram a ganhar força. Há um olhar, nas ciências, especialmente humanas, linguístico sobre as produções acadêmicas. Portanto, elas não se configuram em fórmulas mágicas, prontas, tampouco em manuais e até regras inflexíveis sobre uso. Você tem mais liberdade do que pensa. Dialogue sobre isso com o seu orientador! letra maiúscula em textos acadêmicos
Pingback: Formatação de acordo com APA – Prof. me Anderson HanderProf. me Anderson Hander