Algumas diferenças entre Português de Portugal e Português do Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=-1bezj-3Qyw
Quando decidi viver em Portugal, comecei a perceber várias diferenças entre a nossa língua e a língua de Camões. Por algum tempo, pensava que falávamos a mesma Língua. Alguns próprios portugueses insistiram em dizer isso para mim de uma maneira muito cordial, mesmo, em vários momentos, eu não entendendo algumas partes dos discursos deles. Não posso negar, entretanto, que não tive muitas dificuldades para me comunicar em Portugal. Mas, em virtude da diferença de sotaque, do uso de expressões e vocábulos não utilizados por nós, bem como de ter ouvido formações sintáticas que parecem ser formuladas por um estrangeiro e não por um nativo brasileiro, tenho certeza de que não falamos a mesma língua.
Ouvi os portugueses utilizando bastante o termo “fixe”, o que me fez lembrar do inglês, to fix (quando vi a primeira ocorrência por escrito, em uma conversa de Whatsapp). Cheguei a me recordar de uma música do Coldplay, Fix you, quando ouvi esse vocábulo, ahahha, mas não havia relação alguma. Depois de um tempo, percebi que esse termo significa “legal”.
Quando algo não dá certo, é comum que eles digam “fogo”. Isso não é tão diferente do Brasil. Lembro-me de ter ouvido várias vezes no Brasil esse termo para contextos similares, mas, em vez de dizerem fogo, simplesmente, os brasileiros utilizavam um verbo junto ao vocábulo: “é fogo…”
Bem, são tantas diferenças… embora se trate de variação, que posso dizer, com certeza, é que não falamos a mesma língua, embora a nossa comunicação seja possível, em algum nível.
Olá Anderson. Houve algumas coisas que me surpreenderam.
Por exemplo, fixe em Portugal lê-se “fiche”, logo ao ser falso não é parecido com o inglês “fix”.
Relativamente à frase “amo o Portugal”, sinceramente a mim, português, também soa estranho. Diria “amo Portugal”. Nunca ouvi de outra forma. Não me parece que haja diferença entre PT-PT e PT-BR aqui.
Já agora no vídeo do YouTube também o quadro que é visto aos 2 minutos me parece dar uma ideia exagerada das diferenças.
Por exemplo, muita gente em vez de bica pede simplesmente “um café”, e há quem diga “cafezinho”. Nunca na vida ouvi nenhum português usar buceta para caixa. Em Portugal diz-se injeção, pica é maneira de falar para criancinhas. E o termo peruca é bem mais usado que capuchinho.
Em vez de “falso” queria escrever “falado”, foi engano.
Oi Rodrigo, seja bem-vindo!
Quanto à referência ao inglês, eu fiz uma “brincadeira”/”piada” e me referi à forma ESCRITA desse vocábulo, com “x”, a primeira vez em que tive contato com um português (eu estava me comunicando por meio de mensagens de texto, Whatsapp). Mas, com certeza, não há relação entre esse termo e o verbo “to fix”, foi apenas uma “brincadeira”, compartilhei o que pensei, livremente, com os meus leitores em meu texto. Obviamente, tive a intenção de evidenciar que esse vocábulo, quando ouvi pela primeira vez, soava como uma língua estrangeira para mim.
Em relação ao termo “amo o Portugal”, obrigado pelo comentário, de fato, está errado em Portugal. Conversei com a pessoa que me disse isso e foi um equívoco de minha parte fazer essa constatação, ela apenas redigiu, por mensagem, o artigo “o” equivocadamente antes de Portugal. Mas há uma outra referência que posso trazer para essa discussão, como o caso de o artigo não ser utilizado como na oração, em Portugal: “Vivo em África” e não “na África”. “Vivo em África”, em português do Brasil, é agramatical, como se fosse uma oração formulada por um estrangeiro.
De qualquer maneira, mesmo que pareça um exagero falar em outra língua, há razões científicas que permitem essa afirmação (além disso, tradutores já falam em tradução de Português do Brasil para Portugal). Você deve saber que uma língua varia em uma perspectiva temporal, local… Quando há contato entre uma língua com várias outras, geralmente, há influência e processos linguísticos que podem modificar a estrutura vocabular, sintática etc. da língua de um determinado local. Se você pesquisar, em relação aos processos de mudança de uma língua (citados na sociolinguística), encontrará referência ao termo crioulo, pidiginização e outros processos que explicam o processo de formação de Línguas (não entrarei em detalhes, mas estudos em sociolinguística no Brasil podem confirmar esse argumento. Deixarei alguns links para consulta, se você tiver interesse em adentrar no assunto).
Além disso, Brasil e Portugal adotam gramáticas diferentes, com regras completamente diferenciadas (o que não acontece no caso do inglês). Além disso, a norma escrita idealizada no Brasil, formal, se diferencia tanto da norma gramatical de Portugal quanto da norma falada pela população brasileira, seja esta pobre ou rica. Os brasileiros não falam como escrevem (ou melhor, como deveriam escrever. Há uma grande discussão sobre isso no Brasil, muita polêmica, confusão de conceitos…). Algumas variações e normas que surgiram na linguagem falada do brasileiro já foram incorporadas na norma gramatical.
Obviamente, há variação em todo lugar. Assim como há variação entre uma região e outra no Brasil, deve haver, também, variação em Portugal, mas, no caso do Português do Brasil, não se trata, apenas, de ALGUMAS diferenças, mas muitas.
Mais tarde, deixarei algumas sugestões de linguistas sobre o assunto.
Saudações.
Sugestões para compreensão do que quero dizer:
1. Português ou Brasileiro (de Marcos Bagno).
2. Artigo científico sobre o Português do Brasil (Universidade estadual de Campinas) (http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252005000200015&script=sci_arttext)
O Linguista Marcos Bagno traz essa consideração, afirmando que no Brasil já não se fala mais nem Português, mas “brasileiro”. Ele também é autor de uma gramática pedagógica do Português falado no Brasil. Há quem o critique, mas…
Vários gramáticos conceituados no Brasil já incorporam à gramática do Português brasileiros algumas regras que receberam influência da fala do brasileiro, que rompe com alguns padrões gramaticais que não nos representam.
A questão de considerar o português falado no Brasil como outra língua também é política/ideológica e nos retoma, por exemplo, a movimentos literários em que, no Brasil, os poetas brasileiros rompiam com o padrão da dita LINGUA PORTUGUESA, para evidenciar as nossas diferenças e a nossa autonomia como nação por meio de uma língua nossa (brasileira). Essa reação dos poetas brasileiros se deveu, especialmente, ao fato de dizerem, em Portugal, não sei se ainda dizem, que os brasileiros deturpam a Língua de Camões e em virtude de questões ideológicas, políticas, pragmáticas, identitárias… Por essa razão, alguns movimentos literários no Brasil evidenciam as nossas diferenças em nível morfológico, sintático etc. Você pode consultar algumas obras literárias como Grande Sertão: veredas, para compreender, por exemplo, que não se trata de um “exagero”. Além disso, não tome a escrita, somente, como norte desta discussão, mas a Língua viva, falada em nível muito diversificado nos vários estados brasileiros.
Uma questão interessante a se pensar: a proximidade entre Brasil e Portugal, em termos de identidade, quase não existe no Brasil. Eu poderia dizer que há mais identidade entre Brasil e EUA do que entre Brasil e Portugal. As novelas brasileiras, por outro lado, são famosas em Portugal, outro dia vi a Daniela Mércuri no The Voice Portugal… Não quero dizer que sejamos inimigos, ou algo nesse sentido, mas que nos configuramos de maneiras muito diferenciadas.
Não vejo razão para enfatizar uma união de uma Língua que para mim, talvez não para você, soa como uma Língua Estrangeira (talvez, os portugueses compreendam mais os brasileiros do que os brasileiros os portugueses. Estamos generalizando, nesse caso. O Brasil é um país tão grande, que não sei se os diferentes “falares brasileiros” seriam compreendidos à risca por um Português).
A tentativa de manter um acordo ortográfico entre Brasil e Portugal é um FRACASSO (tentaram desde 1940 e alguma coisa). Foi um acordo feito sem o consentimento de linguistas, cientistas que estudam a língua. Mesmo assim, esse acordo se dá, apenas, em NÍVEL ORTOGRÁFICO. O que não quer dizer nada. Do que adianta uniformizar ortografia diante de tanta variação?
Essa política linguística não consegue mudar a maneira pela qual o Português do Brasil se articula, tampouco aproximá-lo de Português de Portugal.
Veja esta entrevista com Bagno (ela é muito esclarecedora sobre o assunto):
http://www.jornalopcao.com.br/entrevistas/o-portugues-brasileiro-precisa-ser-reconhecido-como-uma-nova-lingua-e-isso-e-uma-decisao-politica-37991/
“O português só muito recentemente se tornou a língua hegemônica no Brasil. Esses contatos linguísticos do português com as línguas africanas e indígenas é o que configura o português brasileiro, diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos e no Québec. Nosso período colonial começa em 1500; no Québec depois de 1600, portanto, são cento e tantos anos de diferença. Os portugueses vieram para cá explorar, já os ingleses foram para os EUA fugindo da perseguição religiosa. Portanto, foi outro tipo de colonização, são outras histórias.
O que o sr. pensa do tratamento desse conflito entre português de Portugal e português brasileiro na escola? Quando um aluno diz que não sabe português, na verdade, está dizendo que não sabe as normas da gramática do português ensinado na escola.”