Crítica às teorias evolucionistas

  • As teorias evolucionistas 
    As teorias evolucionistas serviram para a manutenção do discurso hegemônico etnocêntrico europeu, propõem a hierarquização cultural, tratam de estágios de evolução cultural. Nessa perspectiva, algumas sociedades estariam em estágios de evolução inferiores ao estágio da sociedade européia (SANTOS, 2003). Dessa forma, a evolução seguiria uma “linha única”. Esperava-se de todas as culturas o mesmo processo de “evolução” ocorrido na sociedade europeia. Por trás desse discurso é possível perceber a ideologia colonialista que se instaurava no século XIX. Além disso, idéias racistas também estavam associadas a esses esforços. Os povos não europeus eram considerados inferiores, e por essa condição,eram dominados e explorados.
    De acordo com estudos das ciências sociais, sabemos que não é possível hierarquizar culturas, da mesma forma não é possível tratar de evolução cultural. De acordo com Santos (2003), cada cultura possui a sua lógica interna e não há uma “linha única”, um fluxo comum que leva as culturas à evolução. Esse sentimento de evolução que nós temos hoje, de progresso, não nos torna superiores às outras estruturas sociais do passado. Hoje, nós estamos em outro contexto, em outra época, com paradigmas e estruturas diferentes; não superiores, melhores, inferiores, afinal, o que é superior, o que é melhor? A visão julgadora de nossa cultura sob outras não nos torna superiores, mas sim etnocêntricos.
    Na academia, hoje, há um consenso sobre a impossibilidade da hierarquização cultural e o respeito à lógica interna de cada cultura. A sociedade, no entanto, ainda não superou essa questão. É o que pode ser observado, nas palavras de Renato Ortiz, em seu livro: Cultura Brasileira e Identidade Nacional:

    o mestiço, enquanto produto do cruzamento entre raças desiguais, encerra, para os autores da época os defeitos e taras transmitidos pela herança biológica. A apatia, a imprevidência, o desequilíbrio moral, e intelectual, a inconsistência, seriam dessa forma qualidades naturais do elemento brasileiro. A mestiçagem simbólica traduz, assim, a realidade inferiorizada do elemento mestiço concreto. Dentro dessa perspectiva a miscigenação moral, intelectual e racial do povo brasileiro só pode existir enquanto possibilidade. O ideal nacional é na verdade uma utopia a ser realizada no futuro ou seja, no processo de branqueamento da sociedade brasileira. É na cadeia da evolução social que poderão ser eliminados os estigmas das ‘raças inferiores’, o que politicamente coloca a construção de um Estado nacional como meta e não como realidade presente (Ortiz,1994:21).

    Texto apresentado à disciplina: Problemas Interculturais.

 

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