Como fui professor a vida inteira, fui também, sem querer, um revisor — entre outras anotações, era isso que eu também fazia ao corrigir redações: revisão de texto, trocando esses por zês e vice-versa. Mas a língua é bicho indócil, seja falada, seja escrita, e o espectro de possibilidades é infinito. Começa da certeza absoluta — a ortografia, como grafar as palavras, uma área definida por lei — e vai até uma grande zona mais cinzenta e esotérica, capaz de provocar discussões metafísicas, no bar e na escola, as quais podem incluir colocação de pronomes (ele me tinha dito versus ele tinha me dito), aspectos de concordância (ouviu-se as vozes da rua versus ouviram-se as vozes da rua) e o gigantesco banhado da regência (vou no cinema versus vou ao cinema; lembro o horror ou lembro do horror? E, falar nisso, nesse ou neste texto?).
Conversando, ninguém nota nada; por escrito, o revisor é sempre um homicida sádico — Arrrá! Peguei no pulo! — e a caneta vermelha jorra sangue no A gente conversou bastante, e decidimos aprovar… como assim? “A gente decidimos?!” Ah, mas tem um “nós” oculto no segundo verbo! E então? Não decidiram ainda!
Cristovão Tezza. A vingança dos revizores. In: A máquina de caminhar. São Paulo: Record, 2016, p. 99-100 (com adaptações).
O revisor, além de gostar de ler — ler muito, ler sempre! —, precisa ter um carinho especial pela linguagem como um todo. Não só gramática normativa, não só linguagem informal. O revisor — assim como o professor de português — precisa ter a habilidade de ser um “camaleão linguístico”, expressão que ouvimos bastante na faculdade de Letras.
Para ser um camaleão linguístico, o revisor deve estar sempre atento ao uso que as “pessoas comuns” fazem da linguagem, desde o advogado em seu juridiquês até o mais simples dos humanos com sua respectiva variante regional.
Carolina Machado. Manual de sobrevivência do revisor iniciante. Porto Alegre: Edição da Autora, 2016, p. 7. Internet: <http://revisaoparaque.com> (com adaptações).
A revisão é uma atividade complexa que pressupõe não apenas o conhecimento da língua, mas também de práticas socioverbais em diversas esferas da vida humana, considerando-se as transformações pelas quais passam a sociedade e a linguagem no mundo contemporâneo. Com efeito, esse mundo exige uma redefinição qualitativa do papel do revisor, não podendo esse profissional se restringir aos mesmos procedimentos e às mesmas concepções de revisão de épocas anteriores.
Risoleide Rosa Freire de Oliveira. Revisão de textos: da prática à teoria. Natal: EDUFRN, 2016, p. 144-5 (com adaptações).
Condições de produção são as características básicas do contexto interlocutivo acionadas pelos sujeitos, de forma consciente ou inconsciente, no decorrer do processo de elaboração do texto oral ou escrito. De forma geral, as condições às quais o produtor de textos precisa atender situam-se em um determinado tempo, espaço e cultura, e estão, em primeira instância, relacionadas aos seguintes aspectos: conteúdo temático, interlocutor visado, objetivo a ser alcançado, gênero textual, suporte e, até mesmo, tom.
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