Uso indevido do pretérito mais que perfeito

Tenho recebido muitos textos (acadêmicos, literários, jurídicos), para revisão, em que os autores utilizam, indevidamente, o tempo verbal pretérito mais que perfeito em vez do pretérito perfeito. E esse uso, inclusive, nem chega a ser justificável com o argumento de que é uma variação linguística informal, tampouco chega a ser um registro da fala cotidiana ou da fala formal (tenho lembranças em relação ao uso do pretérito mais que perfeito, somente, em textos literários).

Talvez em virtude de algumas falácias que surgiram sobre o fato de escrever bem ser sinônimo de seguir, à risca, os escritos literários brasileiros de outras épocas, as pessoas tenham formulado essa “hipercorreção” ao redigirem períodos como este:

O direito de propriedade fora estabelecido como a base do sistema da livre iniciativa (art. 170), uma garantia individual (art. 5º, XXII), mas que deverá cumprir com sua função social (art. 5º, XXIII).

O uso da forma verbal “fora”, nesse caso, está indevido (a forma adequada seria “foi”). Deve-se utilizar o pretérito mais que perfeito em relação a uma outra ação que já ocorreu:

No dia seguinte, antes de me recitar nada, explicou-me o capitão que só por motivos graves abraçara a profissão marítima…” (Machado de Assis).

As pessoas pensam que o pretérito mais que perfeito “soa mais bonito”, mais poético e trazem a justificativa, para usá-lo, equivocadamente, de que estão seguindo os clássicos, que dominam o uso correto da Língua Portuguesa (vale lembrar que a norma de prestígio vigente na época desses autores é um pouco diferente das NORMAS de prestígios vigentes hoje, embora vários gramáticos insistam em trazer exemplos, que poucos entendem, de autores clássicos para justificar algumas regras do Português Contemporâneo).

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O Pretérito mais que perfeito

O pretérito mais que perfeito

Muitos escritores têm utilizado o pretérito mais que perfeito de maneira inadequada porque acreditam que o texto fica mais literário e “bonito”.Geralmente, quem utiliza (às vezes inadequadamente) esse tempo é o falante escolarizado, que teve acesso ao estudo de textos literários. Provavelmente, no processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, o professor deve ter se esquecido de explicar como se emprega, adequadamente, esse tempo. Como os alunos pensam que os clássicos literários são modelos que devem ser seguidos para o caso de textos escritos, surge toda essa confusão.

Primeiramente, esclareço que o Pretérito mais que perfeito é um tempo verbal que possui a sua forma simples (com um só verbo, por exemplo: cantara) ou composta (com dois verbos, por exemplo: tinha cantado). Ambas as formas são equivalentes, mas o emprego de uma é mais formal do que outra.

O pretérito mais que perfeito é o passado do passado. Refere-se a uma ação/fato que ocorreu no passado, anteriormente, a outra ação/fato, que também ocorreu no passado.

Ele comprou o carro com parte o dinheiro do apartamento que vendera. (Marcação extremamente formal e utilizada por falantes mais escolarizados)

Ele comprou o carro com parte do dinheiro do apartamento que tinha vendido. IMarcação mais informal utilizada por ambos os falantes, escolarizados ou não).

Vendera = tinha vendido (em termos semânticos).

Quando eu cheguei, ele já tinha saído.

Quando eu cheguei, ele saira.

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